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O que é realmente a pseudo-ciência ?

Criptozoologia   Ufologia   Psicocinestesia  Grafologia    Criacionismo  Conspiracionismo   Reflexologia Psiconáutica

Projectiologia

   O termo pseudo-ciência tem sido usado para desacreditar estudos que apresentem resultados incomuns,  exóticos  ou  diferentes do pensamento fa-

vorito. Assim, o termo pseudo-ciência passa a ser apenas uma arma que cientistas rivais usam para atacar uns aos outros. Esse uso incorreto do termo

pseudo-ciência acaba por pr- judicar o significado real da pseudo-ciência.  "Eu  penso assim  e  chamo todos  que  não  concordem comigo  de pseudo-

cientistas ou pseudo-intelectuais"... pseudo-ciência virou xingamento!

   Desse modo, as assuntos convencionais como matemática, biologia, astronomia,  são classificadas como ciências genuínas e os assuntos não conven-

cionais dentro des- sas ciências, como a criptozoologia, a ufologia, são perjorativamente classificados como pseudo-ciência.

   A melhor definição para diferenciar pseudo-ciência da ciência genuína, sem dúvida, é: Ciência: a busca por conhecimento tangível usando  métodos

lógicos, gerando informação de alta qualidade. Pseudo-ciência:  a  busca por conhecimento tangível usando métodos ilógicos.  Assim, a forma fácil de

definirmos  pseudo-ciência,  com o fim de nos protegermos  de  conceitos desinformativos,  é pelos métodos usado no estudo científico.  Significa  isso

que a ciência genuína é aquela que utiliza os métodos científicos convencionais? Embora isso pareça ser razoável, é resposta é bem mais complicada.

   É complicado definirmos os métodos da ciência convencional como corretas e, portanto,  científicas,  porque os próprios métodos científicos conven-

cionais são falíveis. Estamos entrando agora em um ramo da filosofia chamado epistemologia: a filosofia da ciência, isto é,  o estudo dos melhores mé-

todos para adquirmos conhecimento.

   A epistemologia é um estudo complexo e indefinido. Considerem o seguinte racioncínio: se os métodos científicos que são usados hoje pelos cientis-

tas fossem infalíveis a epistemologia seria um estudo simples, preto no branco, sem margem para discussões. Mas a epistemologia não é assim. A fali-

bilidade é um ponto bem vul- nerável da ciência atual, mesmo as ciências consideradas genuínas.

   Então podemos concluir que a ferramenta que devemos usar para definirmos  a  pseudo-ciência  da  ciência genuína é a epistemologia. Isso significa

avaliarmos a eficiência de cada método científico. Como podemos fazer isso? Por meio da crítica. Assim, o que calibra a epistemologia é a crítica.

  Quando usamos nosso senso crítico nos métodos científicos convencionais acabamos por perceber  que  o uso desses métodos,  por si só,  não torna a

informação mais precisa e confiável. Tomem como exemplo dois métodos convencionais muito usados na ciência moderna  que são bem  problemáti- 

cos no que tange a qualidade da informação: a indução e a navalha de ockam.

O problema da Indutividade

 

   Um dos métodos que eu considero que são problemáticos para o estudos de certas áreas específicas é o método da indutividade.

   A indutividade  é  o estudo por amostragem.  Significa analisar uma parte de um total e induzir sobre  o total  se baseando na amostra estudada.  Ela

funciona bem para objetos de estudo homogêneos, isto é,  objetos de estudos que são iguais em sua inteireza,  que não possuem partes entre si que  se-

jam diferentes. Por exemplo, na geologia.

   A realidade é que quando um cientista estuda uma amostra ele está estudando a amostra e não a totalidade da qual aquela amostra foi retirada. Des-

sa forma, a indutividade serve para gerar hipóteses nunca fatos.  Se  um cientista usou apenas o método indutivo para afirmar que fez uma descoberta

factual ele está sendo pseudo-científico.

   A indutividade é ineficiente no estudo de coisas heterogêneas,  como por exemplo,  a espécie humana. Somos altamente heterogêneos, cada qual um

ser muito individual. Infelizmente, a ciência atual usa muita indução em seus estudos do ser humano, principamente no estudo de raça e gênero.

   Se, de 1000 pessoas analisadas, sorteadas de diversos lugares do planeta, 700 dessas pessoas fossem obesas não significaria, de forma nenhuma,  que

70% da população da Terra é obesa!! Esses resultados, na verdade, são aleatórios,  dada  a  heterogeneidade da espécie humana.  Eles  poderiam retirar

1000 pessoas obesas ou mesmo nenhuma pessoa obesa, essas amostras nunca seriam uma representação fiel da população humana! Estudos assim, in-

felizmente,  dentro do que chamamos  de  ciência convencional,  é  pura pseudo-ciência!  "Estudos"  desse tipo, confrontando raça, sexo, etc, são muito

usados pelos poderosos para tapiar a população e para justificar injustiças.

   Como tornar uma amostra uma representação fiel de algo heterogêneo? Por meio do controle da experiência.  Amostragem de objetos de estudo he-

terogêneos resultam em resultados aleatórios, devido às centenas de fatores que influem no resultado;  a  menos que haja um isolamento da caracterís-

ca que se deseja estudar no objeto de estudo, ou um isolamento do fator.  É  triste observar que a falta de controle das experiências científicas atuais re-

sultem em uma ciência de quinta categoria! O cientista deve se certificar de que variáveis indesejadas não estejam afetando o resultado do estudo.

   No nosso exemplo sobre obesidade, uma amostragem fiel da espécie humana seria algo extremamente  difícil de se conseguir.  Significaria  analisar, 

primeiro, qual a porcentagem de todas as  raças, biotipos, ambos o gêneros, nacionalidades, profissões, hábitos alimentares, hábitos de atividade física

e personalidades da população humana. Daí, com esses dados estatísticos em mãos escolher uma amostragem de voluntários que sejam proporcionais

a esses dados. Daí analisar quantas pessoas nessa amostragem são obesas.  Ainda assim,  os resultados  não  seriam factuais mas,  teriam um resultado

de muito melhor qualidade, chegando a uma porcentagem  mais próxima da realidade. Evitaria que se escolhessem, por sorte,  muitos frequentadores

assíduos de lanchonetes fastfood, ou então que se escolhessem muitos praticantes inveterados de atividade física, que iriam afetar os resultados.

   Em um estudo de gênero, como se realiza um estudo fiel? Outro método para resolver o problema da indução é a falseabilidade,  proposta por Karl

Popper. Significa o estudo das outras hipóteses que podem afetar o resultado, realizando experimentos  que tentem refutar a conclusão inicial.  Vamos

supor que se realize testes de resistência à dor. Graças à ciência de quinta categoria, as revistinhas de banca  de jornal noticiam que:  "Ai!  As mulheres

são mais resistentes à dor, porque os istrógeno age na mulher para a torná-la mais resistente à dor."  Isso gera pré-conceitos que,  por possuírem um a-

pelo emocional muito forte não só são muito aceitos pelas mulheres,  por serem palavras agradáveis de ouvir,  como também as estimula a comprar as

próximas edições.  Mas sem segundos interesses,  como estudar as diferenças  de resistência à dor entre homem e mulher? É bastante frequente que as

mulheres mostrem uma média maior de resistência à dor. Como falsear esse resultado? Seguindo o método de Karl Popper?

   Por fazer um estudo meticuloso e comparativo do resultado de cada volun-

tária. Na série científica de TV Mythbusters foi realizado um estudo sobre es-

se tema que mostrou que as mulheres que mais fizeram a diferença nos testes

de  resistência  à dor  foram aquelas que já haviam tido um parto  natural. Ao

calcular uma média  dos  resultados  das  voluntárias  que nunca  sentiram as

dores do parto, essa média resultou ser semelhante  à  média masculina.  Isso

levou a uma previsão lógica de que experiências dolorosas, quaisquer que fo-

rem, resulta em uma maior resistência á dor.

   Assim,  o gênero não  é necessariamente  um fator de resistencia  à dor  mas

sim as experiências dolorosas.  (Queiram assistir  ao  episódio 142 da série ci-

entífica MythBusters  para essa  demonstração  do princípio da falseabilidade

sobre a suposição da resistência feminina à dor).

   A conclusão é que o método da indutividade pode ser problemático em de-

terminadas áreas de estudo. Mas a ciência rigorosa, de alta qualidade, usa so-

luções para corrigir o problema da indutividade. Se uma experiência não usa

essas soluções, é uma experiência pseudo-científica.

   Ficou evidente que o que chamamos de ciência  também pode  ser  pseudo-

ciência, quando se não usa o verdadeiro rigor científico durante a experiência

ou pesquisa. Se dentro de profissões como encanador  e  eletricista existem os

péssimos  profissionais,  porque  isso também não ocorreria dentro de profis-

sões científicas?

A Navalha de Ockham

 

   Outro método científico problemático é a Navalha de Ockham. Esse concei-

to, proposto pelo filósofo Guilherme (William)  de  Ockham,  se  fundamenta

na idéia de que tudo no universo funciona do modo mais simples possível. Portanto,  segundo  o  princípio de Ockham,  quando há várias hipóteses que

expliquem um fenômeno,  a  mais simples deve ser a verdadeira e que  as  hi-

póteses mais complicadas devem ser descartadas.

   O grande problema é que simples e complexo são termos de significado di-

fuso. Não é possível determinar o que é simples ou complicado sem ter uma 

visão total  de  todas  as  circunstâncias envolvidas.  Essa falta de onisciência 

das  circunstâncias envolvidas  em um fenônemo é outra parte vulnerável do

método científico atual.  O universo pode até funcionar  do  modo mais  sim-

simples possível, isso é aceitável, mas o que parece a hipótese mais complexa

para nós pode ser, na verdade, a mais simples para  o universo, consideradas

todas as circunstâncias envolvidas, inclusive as desconhecidas.  Quem imagi-

naria  que  a  Terra é redonda,  que somos  um  conjunto de seres bacterianos,

que o tempo é relativo...   parecem  explicações  simples  para  você?  O fato é

que se nenhuma das hipóteses foram comprovadas, existe ainda um trabalho

a ser feito para se encontrar a resposta comprovada,  e  não escolher a hipóte-

se aparentemente mais simples.  Visto  que  desconhecemos todas as circuns-

tâncias envolvidas,  o  que pode  ser  simples para nós  pode  não ser o modo

mais simples do universo funcionar.

   Sendo simples e complexo conceitos difusos,  é  muito frequente que um ci-

entista confunda  simples com  conhecido  e complexo com desconhecido

fique  sempre  escolhendo  explicações  dentro do que se conhece ao invés de

admitir a possibilidade do desconhecido.

   Um exemplo de uma falha do método  de Ockham  é  o  Aarvark  ou porco-

da-terra. Esse  animal possui  um  aspecto incomum,  lembrando  o  nosso ta-

manduá-bandeira,  embora não seja um parente próximo.  Mas,  por volta de

1939, se considerava que o Aardvark fosse relacionado ao tamanduá, dada as

suas visíveis semelhanças.  Quando  o  cientista Bernard Heuvelmans propôs

que o Aardvark  era um sobrevivente de um gênero pre-histórico de animais 

e que estava mais relacionado aos elefantes do  que aos tamanduás,  a comu- 

nidade científica rececebeu  sua hipótese com cetiscismo. Qual hipótese era a

explicação mais simples?  Sem dúvida  que seria  a  hipótese do tamanduá ao

invés  da afirmação  de que  o  Aardvark pertence  a um  gênero pré-histórico

que sobreviveu até os nossos dias.  Mas qual é,  hoje,  a  hipótese que se com-

 

provou verdadeira, depois de estudos pormenorizados? A hipótese mais complexa!

  Parece que a Navalha de Ockham não é tão afiada, afinal.

 

Existe Pseudo-Ciência em Ciências Convencionais e Ciência Genuína nas ditas Pseudo-Ciências !

 

   O que podemos concluir dessas reflexões e críticas sobre o método científico?  A conclusão  é que a  forma genuína de identificarmos pseudo-ciência

não é pelo assunto estudado e sim pela qualidade do método do cientista. Existe, portanto,  ciência e pseudo-ciência dentro de ciências convencionais

como a biologia, a sociologia, a história e até mesmo a matemática. Analogamente, existe pseudo-ciência e até mesmo ciência genuína dentro do que é

classificado perjorativamente como pseudo-ciência, como a critozoologia,  a ufologia,  teorias de conspiração,  geologia diluviana,  design inteligente...

só dependerá do método usado pelo cientista. É o método que dá credibilidade ao cientista e não o nível de convencionalidade do seu pensamento.

 

O episódio 142 da série de TV Mythbusters deu uma ótima demonstração do princípio da falseabilidade ao testar o mito da maior resistência feminina à dor.

A hipótese mais simples para explicar o parentesco do Aardvark provou-se não ser a verdadeira. Os cientistas que usaram a Navalha de Ochkam e escolheram a hipótese mais simples erraram. Ao invés de Aardvark ser, simplesmente, um parente do nosso tamanduá, ele é  mais aparentado aos elefantes; sendo uma única espécie sobrevivente de tempos pré-históricos. A hipótese mais complexa era a verdadeira ao invés de a mais simples.

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